"Nos mitos estão os elementos do nosso destino humano." Joseph Campbell.
Decifrar os mitos, é o mesmo que decifrar a nós mesmos. Mas como decifrar as histórias dos deuses e dos contos se passamos uma vida inteira para decifrar a nossas atitudes, medos, impulsos, nossas famílias e todo nosso entorno?
Segundo Campbell, essas histórias são nosso espelho psíquico, como os sonhos. Jung concordava com ele. Mitos e sonhos são as ferramentas usadas por Jung na psicologia analítica.
Interpretar a vida dos outros sempre foi mais fácil para o ser humano do que olhar pra si mesmo. Desta forma, começar pelos mitos nos ajudam a olhar para nós através dos outros, os personagens.
O que essas três Deusas do Olimpo tem a nos dizer?
Perséfone, que também é Kore, representa a lua nova e a lua crescente. Simboliza os começos, as sementes, a juventude, a esperança, a vitalidade e por isso está ligada a primavera. Kore é uma das representações do conceito do Sagrado Feminino. Perséfone a mulher entrando na vida adulta. Começo de uma desconexão com seu sagrado interno, umas mais outras menos. Experiências de conexão com moldes e regras impostas pela sociedade.
Imaginem a fase da lua nova quando nós mulheres ainda éramos bem pequenas e livres. Entre os 2 e 7 anos de idade nos era permitido, tomar banho com amiguinhos, com o pai, usar só a parte de baixo do biquini, andar de calcinha pela casa e até manipular o clitoris, sem que fosse considerado pecaminoso. Ja na fase da lua crescente, parte da infância, pré-adolescência e adolescência, começamos a ser moldadas pela sociedade, cultura local e nossa família. Muitos mitos descrevem a mulher como a donzela virgem, que representa a jovem livre em momento de descoberta da sua feminilidade, beleza e sexualidade. Tempos do primeiro grande amor, da perda da virgindade, de criar suas próprias regras e desafiar as que são impostas pela família e pela sociedade.
Deméter representa a lua cheia, o verão, a mãe, a fertilidade, a prosperidade, a que nutre, protege e ama incondicionalmente. Sua beleza, sexualidade e vitalidade estão em plena potência.
Deméter é a mulher adulta, independente, em plena atividade na vida profissional e pessoal, que vive relacionamentos, experiencias e a liberdade como bem quer. Momento em que o útero e os ovários estão em sua maior potência e fertilidade e a mulher está pronta para exercer a maternidade. Momento de alguns relógios biológicos despertarem. Seja para os filhos vindo do seu ventre ou para os que arruma pelo caminho, como pais, namorados, maridos, amigas(os) ou chefes que acaba tomando conta, a maioria das mulheres nesse momento ou não esta mais conectada ao Sagrado Feminino ou a conexão está fraca, quase por um fio. Mas também... Mãe, cuidadora, profissional exemplar, mulher, dona de casa, amiga, como lembrar de si mesmo? Não sobra tempo para passar cremes, cantar no chuveiro, fazer uma máscara para a pele, para o cabelo ou mesmo não fazer coisa nenhuma, apenas ler, relaxar, tomar um sol, dormir ou dar um tempo da família e do trabalho. Como tirar umas férias deixando todos por alguns dias para se reconectar?
Hécate a nossa Deusa Anciã que completa a tríade é representada pela lua minguante. A mulher parteira, a mulher sábia, vivida, madura, experiente. Em muitos mitos aparece como fada madrinha com sua varinha mágica ou como bruxa com seu caldeirão de poções. Reconectada com seu Sagrado Feminino, conhece os mistérios da vida, da cura, rege os finais das histórias, o desapego. Seus cabelos brancos são o símbolo do conhecimento, das transformações e da morte. Vem para nos lembrar que é preciso morrer para renascer, seja de forma simbólica ou não.
Hécate, a mulher madura, experiente e próxima da menopausa. Momento em que começa a se questionar sobre o sentido da vida, até que volta a colocar seu tempo e ela própria como prioridade. Momento de se reconectar com seu EU e entender o que realmente faz sentido continuar na sua vida. Mudanças de carreira, separações, rompimentos de crenças limitantes, padrões e condutas são muito comuns nessa fase. Por conta dessa busca a reconexão com o Sagrado Feminino é ativada. Cursos, terapias, praticas, ferramentas de auto conhecimento e o retorno ou iniciação de praticas manuais, como cozinhar, trabalhos artesanais, dança entre tantas outras atividades ligadas ao feminino, começam a ser ativadas.
Acredito que se refletirmos sobre a história dessa Tríade e a história de vida de cada uma de nós, levando em consideração a reflexão de Campbell
"A pele velha tem que cair para que uma nova possa nascer"
Quem sabe possamos olhar para cada etapa de nossa vida com um novo olhar. Entendendo cada história vivida como uma oportunidade de um novo caminho, uma nova escolha, um novo aprendizado ou um inicio de uma um novo ciclo ou jornada.
No próximo e ultimo capítulo dessa Tríade, vamos falar deste mito nos dias de hoje e o momento da pandemia.
Será que Deméter, deusa da ordem social, da agricultura, da fertilidade e prosperidade está se sentindo abusada e desrespeitada pela forma com que estamos lidando com o Planeta ?
OU
Será que nós, filhos de Deméter, também fomos raptados por Hades ?
Espero vocês para descobrirmos :)
Namastê!
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