Entre o sono e o despertar
- Andrea Nero

- 12 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de out.
Como transformar dor e angustia de sonhos em palavras e imagens poéticas

O poema que compartilho a seguir nasceu do encontro entre o sono e o despertar — entre a lembrança e a libertação.
Há sonhos que não se vão ao acordar. Eles se instalam em nós, silenciosos, atravessam as décadas e se tornam parte da nossa respiração e nossa memória. Durante muitos anos, tentei esquecer. Até que compreendi — com a ajuda de muita análise e da escrita — que não esquecemos o que nos marcou muito profundamente, porém é possível transformar essa memória e sentimento em algo que é libertador!
Como transformar dor e angustia de sonhos em palavras e imagens poéticas?
Consegui dar corpo ao indizível, e transformei medo e angústia em imagem, dor em palavras, e a necessidade de silêncio, em escrita poética. Não nasceu de um dia para outro, mas de muito esforço pra descrever algo tão subjetivo. O escrever e reescrever até que o que as palavras surjam.
O poema que apresento a seguir nasceu desse processo. É o registro de um sonho que, durante quase toda uma vida, me habitou, ma também é o testemunho de um renascimento: o instante em que a alma encontra coragem para olhar no espelho das próprias sombras e, finalmente, soltar o que precisa ir e respirar em paz.
Freud disse que o sonho é “a estrada real que leva ao inconsciente”. Então, acredito que um sonho que fez seu percurso, ao ser escrito, materializado em palavras que abarcam toda suas dores, angustias, sentidos e memórias, finalmente encontrará descanso. E a alma agradece!
Tudo escuro no silêncio
por Andrea Nero

Você nãoooooooo
Me vejo sair correndo
Pra lá e pra cá sem direção
Apenas um olho aberto
Vasculho o canto dos olhos
Da boca dos ouvidos
Do baço do braço
Tudo escuro no silêncio
Nada e tudo só vazio
Exaustão e medo
Pisco pisco e durmo
De novo me vejo correndo

Porque será que corro?
Sem sair do lugar
Falta ar e sobra tristeza
De novo o Eu que corre grita
Um rosto de homem
Que rasteja melento
Com a boca cheia de formiga
Querendo abocanhar as pernas
Tudo escuro no silêncio
Em vão

Arregalo os olhos
Estou no meu quarto!
Vejo minha escrivaninha
Meus cadernos revirados
A taça de vinho tombada
Mas a cama, é outra
Tem dossel e cortinas magipack
Enfio o dedo, com força
Aperto puxo até com os dentes
Tento furar vou sufocar
Não rompe, só estica entorta
Tudo escuro no silêncio
Cadê o Pirata?
Uma unhada e pronto

Choro baixinho e oro
Sinto o movimento das sombras
Rastejam seus corpos gosmentos
Se contorcem abocanhando o próprio rabo
Gritos choros uivos, é ensurdecedor
Tudo pelo escuro no silêncio
Mas as sombras...
Se divertem nas gargalhadas silenciosas
Exalam o aroma do gozo de ódio
Se retorcem nos intestinos de prazer

Aglomeradas no topo plastificado
Fião o desprezo
Fuzilam com os olhos
Fodem de línguas bifurcadas
Fornicam-se com Magipack
Você nãooooo
Malditas, entranhas não
Preciso acordarrrrrrrr
(Ou será que é dormir?)
Sem chão socorro infância clemência
Recebo de bom grado a ajuda juro!
(Cadê o Eu que corre?)
Me encolho olho dentro ouço o canto
Tudo pelo escuro no silêncio...
Meus sonhos costumam ser muito barulhentos e cheios de figuras indecifráveis. Esuros e com poucas cores, E o seus já parou pra prestar a atenção como são? Você é da turma que tem um caderninho na cabeceira pra anotar seus sonhos antes mesmo de levantar? Ou da turma que nem liga para as mensagens simbólicas dos sonhos?
Namastê!
Obs: Todas as imagens foram geradas por mim no Chatgpt, usando como prompts as estrofes do poema mais a minha descrição das cenas de cada estrofe.










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