Segundo Joseph Campbell, nos mitos estão os elementos do nosso destino humano.
As interpretações dos mitos são muito particulares. Fico aqui imaginando qual será a interpretação de quem leu o capítulo 1, onde conto o mito e o capítulo 2, onde falo um pouco da minha pesquisa sobre o significado das Deusas e compartilho minha interpretação e relação a mulher contemporânea. Adoraria saber a interpretação de quem leu. Mesmo que totalmente diferente da minha, será um prazer receber um email e conhecer uma outra versão do mesmo tema. Então fica aqui um convite. ;)
E o momento presente ? A Pandemia, o caos social, o isolamento social, as mortes e impermanência?
Acredito que se refletirmos sobre a história dessa Tríade, o momento presente do planeta e de todos nós, levando em consideração a reflexão de Campbell
"A pele velha tem que cair para que uma nova possa nascer"
Quem sabe possamos olhar para esta crise como uma oportunidade para um novo inicio de jornada. De cada um e da sociedade. Compartilho abaixo, minha visão do momento pandemia comparado ao mito de Deméter.
Observando o que nós seres humanos, estou me incluindo, nos tornamos nesse mundinho onde vivemos, alguns mais outros menos,
Tenho a sensação de que fomos raptados e consumidos por Hades em seu mundo dos infernos.
Me refiro aqui, a termos nos tornados capitalistas, egocêntricos, vaidosos, workaholics, preconceituosos, corruptos, avarentos, despreocupados com o semelhante, com o planeta, com o que comemos, ou ainda como necessitamos de algum tipo de droga, sejam lícitas como remédios, cigarro, bebidas ou ilícitas, simplesmente para conseguir sobreviver na sociedade contemporânea, com toda sua pressão, enfim...
Outro questionamento que me veio a mente.
Será que como Perséfone, nos seis meses que ela fica no submundo, estamos completamente desconectados de nossa alma, propósito e sentido de vida?
Independente deste questionamento encontrar ressonância em poucas ou muitas pessoas, uma coisa é certa, diferente de Perséfone, estamos vivendo nesse mundinho dos infernos durante tempo integral, ou quase. Afinal, sempre damos um jeitinho de respirar um pouco de ar fresco no mundo dos vivos, não é mesmo?
Deméter, nosso planeta, cansa de gritar ao vento por um bando de filhos mau agradecidos que depredam, matam, agridem, sufocam, queimam, explodem, tudo que ela faz para eles com amor e carinho. Hécate sussurra,
"Acredito que a humanidade foi raptada por Hades e já comeram as sementes de romãs"
Imagino Deméter possuída de dor, sem encontrar um sentido para o planeta continuar a existir com os seres humanos vivendo mais tempo no mundo de Hades e lança uma profecia.
"Uma peste se abaterá sobre os seres humanos. Os que não ouvirem meu chamado de retorno a vida, morrerão ou sofrerão com a perda do que mais amam. Se aprenderem o caminho de volta do mundo dos mortos e renascerem, terão uma segunda chance no mundo dos vivos"
Acredito que estamos no momento do Mito onde Zeus tenta acalmar Deméter e fazer um acordo. Alguns saem porque o mundo não pode parar por completo e outros ficam para que o chamado pela reflexão de Deméter possa ser exercido. A pureza de intensão e a conexão integral do ser humano, sabemos, não pode mais ser restaurada por completa.
Como Kore, já nos transformamos em Perséfone. Porém ainda temos a chance de uma nova vida. Podemos reaprender o real sentido de estarmos aqui, nos reconectar com nosso EU, com nosso caminho e fazer mudanças profundas em nós e na forma como nos relacionamos com a sociedade.
Quero acreditar que como a Fênix que renasce das cinzas, poderemos recomeçar uma nova vida transformados. Com um novo olhar, poderemos, transitar pelo mundo interno ( nossa sombra) e externo (vida cotidiana), para de tempos em tempos realinhar nossa ligação com o divino que reside em nós, o nosso sagrado.
Que possamos morrer para renascer para uma nova vida e uma nova sociedade.
E você o que achou dessa reflexão e interpretação do mito? Qual a sua?
Adoraria saber.
Namastê!
ótima proposta de reflexão. fico pensando se também não seria já esse o mundo pós-mundo. se a única marcação temporal a que nossa consciência tem acesso é o presente, não seria esse presente já a nova vida, a nova realidade? ainda antes de pensar no que vem depois, me interessa como vamos lidar de uma maneira menos ansiosa e mais humana ao que nos foi apresentado exatamente agora.